No relato que fez à Comissão Estadual de indenização às Vítimas de
Tortura de Minas Gerais, em 2001, Dilma conta como teve um dente arrancado a
socos, sobre as sessões de tortura (algo que parecia ser uma praxe entre os
presos interrogados), sobre ser amarrada em um pau de arara e sobre os choques.
“Eu
vou esquecer a mão em você. Você vai ficar deformada e ninguém vai te querer.
Ninguém sabe que você está aqui. Você vai virar um ‘presunto’ e ninguém vai
saber”, era uma das ameaças ouvidas de um agente público no período em que
esteve presa. “Tinha muito esquema de tortura psicológica, ameaças (…) Você
fica aqui pensando “daqui a pouco eu volto e vamos começar uma sessão de
tortura”, contou Dilma.
Dilma
foi levada para a Operação Bandeirante no começo de 1970, em Minas Gerais.
“Era
aquele negócio meio terreno baldio, não tinha nem muro direito. Eu entrei no
pátio da Operação Bandeirante e começaram a gritar: “Mata!”, “Tira a roupa”, “Terrorista”,
“Filha da puta”, “Deve ter matado gente”.
E
lembro também perfeitamente que me botaram numa cela. Muito estranho. Uma porção
de mulheres. Tinha uma menina grávida que perguntou meu nome. Eu dei meu nome
verdadeiro. Ela disse: “Xi, você está ferrada”. Foi o meu primeiro contato com
o “esperar”. A pior coisa que tem na tortura é esperar, esperar para apanhar.
Eu senti ali que a barra era pesada. E foi. Também estou lembrando muito bem do
chão do banheiro, do azulejo branco. Porque vai formando crosta de sangue,
sujeira, você fica com um cheiro”, relata.
No
caso de Dilma, o principal responsável pela tortura era o capitão Benoni de
Arruda Albernaz. “Quem mandava era o Albernaz, quem interrogava era o Albernaz.
O Albernaz batia e dava soco. Ele dava muito soco nas pessoas. Ele começava a
te interrogar, se não gostasse das respostas, ele te dava soco. Depois da
palmatória, eu fui pro pau de arara”, conta. Albernaz era o chefe da equipe A
de interrogatório preliminar da Oban quando Dilma foi presa, em janeiro de
1970.
Um
dos pontos mais gráficos nos trechos do depoimento de Dilma contidos no
relatório fala sobre o episódio no qual teve um dente arrancado a socos, que
lhe acarretou sequelas até os dias atuais.
“Uma
das coisas que me aconteceu naquela época é que meu dente começou a cair e só
foi derrubado posteriormente pela Oban. Minha arcada girou para outro lado, me
causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um
soco e o dente deslocou-se e apodreceu. Tomava de vez em quando Novalgina em
gotas para passar a dor. Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o
Albernaz completou o serviço com um soco arrancando o dente”, conta Dilma.
“Acho que nenhum de nós consegue explicar a sequela: a gente sempre
vai ser diferente. No caso específico da época, acho que ajudou o fato de
sermos mais novos, agora, ser mais novo tem uma desvantagem: o impacto é muito
grande. Mesmo que a gente consiga suportar a vida melhor quando se é jovem,
fisicamente, mas a médio prazo, o efeito na gente é maior por sermos mais
jovens. Quando se tem 20 anos o efeito é mais profundo, no entanto, é mais
fácil aguentar no imediato".
Fiquei
presa três anos. O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez
que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha
pele tremeu. Tem um lado que marca a gente o resto da vida.
Quando
eu tinha hemorragia – na primeira vez foi na Oban – pegaram um cara que
disseram ser do Corpo de Bombeiros. Foi uma hemorragia de útero. Me deram uma
injeção e disseram para não me bater naquele dia. Em Minas Gerais, quando
comecei a ter hemorragia, chamaram alguém que me deu comprimido e depois
injeção. Mas me davam choque elétrico e depois paravam. Acho que tem registros
disso até o final da minha prisão, pois fiz um tratamento no Hospital de
Clínicas.
"As
marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim”, relatou Dilma.
Quem
passou por isso ..., não merece ser substituída por isso: Michel Temer, Eduardo
Cunha, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Henrique Alves, Moreira Franco, Renan
Calheiro, Geddel Vieira, Aécio Neves, José Serra, Cássio Cunha Lima, Agripino
Maia, Jair Bolsonaro, Paulinho da Força,...desculpem-me, vou parar por aqui, pois já
está cheirando mal.
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