segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Depoimento de um pesquisador sobre a psicologia do homem sertanejo no início do século XIX.

Uma contribuição fundamental para o entendimento do Brasil, no início do século XIX, foi dada por Henry Koster. Nascido em Portugal, numa família inglesa, Koster chegou no final de 1809 e durante onze anos percorreu as cidades e sertões do Nordeste. Morreu em 1820, no Recife, onde foi sepultado.

Seu livro, Travels in Brazil, publicado em Londres em 1816, foi traduzido para o português pelo mais famoso folclorista brasileiro, o potiguar Luís da Câmara Cascudo.

O depoimento de Koster é o primeiro, cronologicamente, sobre a psicologia, a etnografia tradicional do povo nordestino, o sertanejo no seu cenário”, escreveu Câmara Cascudo.Antes dele, nenhum estrangeiro atravessara o sertão do Nordeste, do Recife a Fortaleza, em época de seca, viajando em comboio, bebendo água de borracha, comendo carne assada, dormindo debaixo das árvores, tão integralmente adaptado ao mundo que escolhera para viver.”

Koster deixou ainda uma descrição detalhada do modo de vida no interior nordestino.

Os sertanejos são muito ciumentos e há dez vezes mais mortes por este motivo do que por qualquer outro”, relatou. “Essa gente é vingativa. As ofensas muito dificilmente são perdoadas e, na falta de lei, cada um exerce a justiça pelas suas próprias mãos. [...] O roubo é pouco conhecido. A terra, nos bons anos, é toda fértil, impossibilitando a necessidade que justificaria a tentação criminosa, e nas más colheitas todos sofrem igualmente a penúria. [...] São extremamente ignorantes e poucos possuem os mais modestos rudimentos de instrução. [...] Os sertanejos são corajosos, sinceros, generosos e hospitaleiros. Quando se lhes pede um favor, não o sabem negar. Entrando em negócios de gado, ou qualquer outro, o caráter muda. Procurarão enganar-vos, olhando o sucesso como prova de habilidade, digna de elogio.”

Fonte: Livro 1808 - Laurentino Gomes



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Cosme Júnior