Uma contribuição
fundamental para o entendimento do Brasil, no início do século XIX, foi dada por
Henry Koster. Nascido em Portugal, numa família inglesa, Koster chegou no final
de 1809 e durante onze anos percorreu as cidades e sertões do Nordeste. Morreu
em 1820, no Recife, onde foi sepultado.
Seu livro, Travels in
Brazil, publicado em Londres em 1816, foi traduzido para o português pelo mais
famoso folclorista brasileiro, o potiguar Luís da Câmara Cascudo.
“O depoimento de Koster é o primeiro, cronologicamente, sobre a psicologia,
a etnografia tradicional do povo nordestino, o sertanejo no seu cenário”,
escreveu Câmara Cascudo. “Antes dele,
nenhum estrangeiro atravessara o sertão do Nordeste, do Recife a Fortaleza, em
época de seca, viajando em comboio, bebendo água de borracha, comendo carne
assada, dormindo debaixo das árvores, tão integralmente adaptado ao mundo que
escolhera para viver.”
Koster deixou ainda uma
descrição detalhada do modo de vida no interior nordestino.
“Os sertanejos são
muito ciumentos e há dez vezes mais mortes por este motivo do que por qualquer
outro”, relatou. “Essa gente é vingativa. As ofensas muito dificilmente são perdoadas
e, na falta de lei, cada um exerce a justiça pelas suas próprias mãos. [...] O
roubo é pouco conhecido. A terra, nos bons anos, é toda fértil,
impossibilitando a necessidade que justificaria a tentação criminosa, e nas más
colheitas todos sofrem igualmente a penúria. [...] São extremamente ignorantes
e poucos possuem os mais modestos rudimentos de instrução. [...] Os sertanejos
são corajosos, sinceros, generosos e hospitaleiros. Quando se lhes pede um
favor, não o sabem negar. Entrando em negócios de gado, ou qualquer outro, o
caráter muda. Procurarão enganar-vos, olhando o sucesso como prova de
habilidade, digna de elogio.”
Fonte: Livro 1808 - Laurentino Gomes
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